Produção/Edição: Kristofer Oliveira
Colaboração: Phillipe Figueiredo; Edmilson Vitoriano; Claudemir Barros; Marcos Cabral; Fábio Gonçalves; JC, Paulo R. Viana.
Consultas: Revista Sua Boa Estrela de 1971; Arquivo Governo da Paraíba
Quem vê a Bonfim hoje, operando apenas uma linha e com uma pequena frota, não imagina o tamanho da sua contribuição e importância no que tange o transporte paraibano. A sua longínqua trajetória carrega consigo diferentes momentos que geram possibilidades de trazer a tona os mais variados sentimentos. Foram poucas as empresas que já vivenciou quase de tudo ao decorrer da sua existência.
Severino Camelo – Em busca da realização de um sonho
Assim como quase todos que nasceram no interior paraibano no inicio do século passado, a sua infância e juventude foi marcado por muito trabalho e dificuldade na cidade de Esperança. Diferente dos demais, ele costuma juntar dinheiro para colocar em prática algum negócio.
Após o Serviço Militar em João Pessoa e conseguir juntar algumas economias, retorna a sua cidade em 1922 e adquire um ponto comercial, passando a comercializar frutas, verduras, farinha, etc.
No fim de 1927, após juntar Um conto e 500 de réis, adquire um carro e começa a operar a linha Esperança x Campina Grande, iniciando-se no mundo dos transportes. Após três anos, adquire de um rapaz em Campina Grande um ônibus usado de madeira por Quatro contos e 500 mil réis, com alguns defeitos, mas o suficiente para transportar 20 passageiros e algumas bagagens.
O transporte nessa época era bastante complicado, pois a viagem entre Esperança e Campina Grande poderia durar das 6 da manhã até as 17 horas, isso com a estrada em condição razoável. Caso chovesse, facilmente o sôpa atolava e poderiam passar até três dias no local.
O Severino Camelo era de tudo...motorista, cobrador, carregador, mecânico, etc.
Em 1940, passa a residir em Campina Grande. Uma nova estrada surge no estado, ligando João Pesso a Campina Grande. Ele disponibiliza mais um ônibus para fazer esse trajeto, dos seis novos que acabara de adquirir, fabricados em João Pessoa e de madeira do tipo sucupira e guaraúna.
Em 1948 a situação melhora bastante. Severino Camelo compra de um empresário paraibano, o José Alves de Azevedo, a linha João Pessoa x Recife, já utilizando ônibus mais modernos, com carrocerias feitas no sul. A situação melhora ainda, algum tempo depois, quando começam a surgir os primeiros ônibus Mercedes-Benz e o nosso perseverante paraibano não é mais apenas um simples transportador – é proprietário da Empresa Viação Bonfim. Também, torna-se pioneiro na aquisição de ônibus Mercedes-Benz na Paraíba, comprado a Aldino Pimentel, então concessionário em Campina Grande.
A consolidação de um império e o seu encolhimento
Entre os anos 50 e 70, diversas estradas estavam sendo construídas ou pavimentadas, interligando cidades e localidades. Com isso, um aumento na demanda por transporte surgiu na Paraíba para suprir essa necessidade. Mesmo consolidada como uma empresa, um fator no início dos anos 60 foi fundamental para a Bonfim: a esquematização mais administrativa visando a sua ampliação com qualidade. O General Aldenor Valente Quinderê deu uma contribuição significativa nesse sentido ao unir os laços com a família Camêlo após sua filha se casar com um dos filhos do proprietário da Bonfim. A primeira preocupação foi criar os meios de trabalho e então começaram a construir uma garagem, que é esta atual. A partir daí a empresa estruturou-se de maneira a prosseguir no seu desenvolvimento.
Até o início dos anos 70, a Bonfim tinha cinqüenta ônibus na sua frota, 100% Mercedes-Benz e um quadro com cerca de 160 funcionários. Tinha agência própria em João Pessoa, Campina Grande, Natal e Recife.
Até então, nos primeiros anos da década de 70 tinha a concessão das linhas:
João Pessoa x Recife (Operada desde 1948 pela empresa e apenas essa desde 1979);
João Pessoa x Natal ( Negociada com a Viação Nordeste);
João Pessoa x Rio de Janeiro (Negociada com a Itapemirim);
João Pessoa x Goiana/PE (Repassada a Viação Boa Vista);
João Pessoa x Cajazeiras (Repassada a Viação Gaivota);
João Pessoa x Patos (Repassada a Viação Gaivota ou negociada com a Viação Patoense – a verificar);
João Pessoa x Campina Grande (Negociada com a Real da Família Brito);
João Pessoa x Brejo Paraibano (Negociada com a Família Azevedo (Bela Vista) e possivelmente a Família Amorim da Guarabirense);
Recife x Natal (Negociada com a Viação Nordeste);
Campina Grande x Recife (Possivelmente negociada com a Progresso);
Campina Grande x Natal (Negociada com a Nordeste);
Guarabira x Recife (Negociada em 1979 com a Itapemirim);
Até a primeira parte dos anos 70 boa parte de suas linhas foi negociada, ocasionada por problemas de ordem familiar e, conseqüentemente, administrativa. Em 1975, a empresa teve 50% de redução da sua frota, ficando com apenas 25 carros para as duas únicas linhas: João Pessoa x Recife e Guarabira x Recife. De todas as suas linhas citadas acima, a João Pessoa x Recife era a mais rentável, uma vez que em Recife tinha de tudo que o pessoense necessitava, além das mercadorias serem mais baratas. Em 1979, ela negocia a linha Guarabira x Recife para a Itapemirim, passando a operar apenas uma linha, além de operar, também, no fretamento para turismo. Atualmente também explora o setor de encomendas entre João Pessoa e Recife.
Mesmo operando apenas uma linha, a Bonfim não perdeu a sua força e sua importância, pois, além de prestar um ótimo serviço, continuou com o seu pioneirismo ao adquirir novidades no segmento de ônibus rodoviários.
O nome do terminal rodoviário de João Pessoa, inaugurado em 1982, leva o nome do pioneiro do transporte paraibano.
Amanhã seguiremos a Bonfim mais um pouco, na segunda parte da Edição Especial, Bonfim.
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