Em artigo publicado no seu blog “Nossa Voz na Rede”, no Bayeux em Foco, o blogueiro William Santos analisa a proposta de redução da tarifa de ônibus em Bayeux.
Transporte Público - Uma Crise Muito Além da Tarifa
Finalmente o transporte público entrou na pauta de discussões. Quando bateu no fundo do poço, alguns começaram a se mexer um pouco.
Do lado das empresas, propostas e supostos projetos são anunciados. A princípio algumas promessas de redução de tarifas, mas ainda longe de convencer, principalmente por não apresentar detalhes sobre a sustentabilidade. Prometer reduzir tarifas é uma forma de acalmar ânimos em uma cidade onde o sistema de transporte entrou em colapso total. Que venha a próxima fase, com detalhes sobre a redução de custo.
De acordo com o histórico das empresas que operam nesta região, há o risco de uma medida pautada em pirotecnia afundar o que resta do sistema de transporte público. O risco é amplificado pelo fato de o poder público local ser históricamente também incompetente e negligente quando o assunto é transporte público. Pra piorar o cenário, temos um gestor relapso e dado a clientelismos no comando. Difícil que dai saia algo capaz de reverter o caos, mas pelo menos já há um debate, finalmente, iniciado. Vamos ver até onde chegam com isso.
Três Pontos importantes
Enquetes no blog Caos Bayeux, que cobre a crise no serviço desde 2010, mostram que os mais graves problemas apontados pelos usuários do sistema de transporte público ainda não entraram na pauta dos discursos bem intencionados do Adalberon, representante da Empresa Wilson. Provavelmente porque o diretor da empresa nunca tenha respondido a nenhuma tentativa de contato, até o momento em que órgãos de fiscalização, como o DER e MP-PB resolveram entrar no lance, ai então ele passou a publicar ideias de solução em portais, mais ainda indisposto a conversar com editores do blog a respeito dos reais problemas levantados lá. Quem sabe hoje o Adalberon não resolva responder a algum e-mail e até escrever para o blog?
1 - Tempo de espera
O primeiro grave problema com nosso atual sistema de transporte envolve a falta de regularidade nos horários. Demoras excessivas deixaram de ser ocasionais e passaram a ser comuns em determinadas faixas de horário. O que inviabiliza o uso de ônibus por muitos de nós. A versão da empresa, até alguns meses atrás, para justificar isto falava em problemas com o trânsito, obras, etc. Mas um fato constatado num ônibus da linha Circular SESI mostrou que o veículo passava mais tempo processando o embarque em um determinado ponto do que o tempo necessário para o percurso até a entrada do bairro. Praticamente o dobro do tempo total da viagem era perdido no processamento de embarque porque o motorista não tinha assistência, era o único funcionário incumbido de trocar dinheiro, orientar o embarque, além de dirigir, claro. Essa situação ainda persiste e não há perspectiva de solução para ela. Pelo menos até agora, nada foi dito sobre como as empresas pretendem solucionar isto.
2 - Super lotação
A enquete também apontou que a superlotação nos coletivos é algo gravíssimo. Em horários de pico a frota não recebe reforço suficiente. Como o fluxo de passageiros é maior, a sobrecarga no motorista, que exerce a função de cobrador, amplia os atrasos justo nesta fase crítica do dia. O resultado é visível na faixa das 17h às 18h nos pontos principais em João Pessoa. Uma multidão sem transporte para casa. Nas primeiras horas do dia, ônibus superlotados são vistos facilmente. Absolutamente todos os coletivos estão sem condições de embarque assim que saem dos bairros. Mas o absurdo da falta de ônibus nas linhas não para por ai. Até mesmo em horários de baixa demanda, há uma retração tão estúpida da frota disponível que é possível esperar por mais de uma hora num ponto e embarcar num ônibus hiperlotado. Um dado interessante levantado no blog mostra, através de uma pesquisa, que a empresa Almeida, com dois funcionários em cada ônibus, exercendo funções específicas, consegue manter os horários corretamente. Já na Wilson, com um motorista apenas para exercer duas funções, os atrasos -- verificados através dos intervalos -- são constantes. A forma como dar uma solução para esta vergonha também ainda não entrou na pauta.
3 - Linhas inadequadas
As linhas também deixam a desejar. Trajetos antiquados e localidades sem atendimento. Áreas populosas sem alternativas de mais de uma linha contribuem para o caos. Uma bagunça
generalizada na engenharia de tráfego que se enterrou décadas no passado. Há, de acordo com matéria publicada aqui mesmo neste portal, um sinal de que pretende-se melhorar tal estrutura. O que é mais relevante para melhorias no sistema do que a conversa sobre reduzir tarifas.
Sistema Inviável
Basicamente, o conjunto destes problemas relatados, e que foram constatados também por outros usuários que se manifestaram através do blog Caos Bayeux, me levaram a desistir do transporte público em Bayeux e passar a usar meu próprio carro pra me virar. Para chegar à faculdade, vou de carro até João Pessoa; deixo estacionado no centro e de lá eu pego um ônibus, afinal lá a situação do transporte público ainda é razoável. Mesmo que o custo total seja bem mais elevado do que o da tarifa (tenho direito a vale transporte, mas cancelei há mais de um ano o recebimento), simplesmente não dá pra confiar em horários incertos; passar horas preciosas do meu dia esperando num ponto e caminhar quilômetros para chegar ao destino, ou ao ponto mais próximo de minha residência, que fica a exatos 1.200 metros de distância. Mas eu uso carro por opção e sei que há alternativas mais baratas do que os custos de combustível e manutenções com os quais eu arco. Milhares de bayeenses adotaram motos de baixa cilindrada que, além de tudo, são mais ágeis do que um automóvel. Eu não me sinto seguro em moto e apenas por isso não optei pela alternativa, mas esta tem sido uma saída para muita gente que vive neste caos.
Baixar tarifas é uma boa medida. Mas não é a única e passa longe de uma solução mágica para os graves problemas existentes. A medida teria que ser precedida de uma melhoria no atendimento. Uma ampliação da frota, ajustes nas linhas, horários regulares e maior gama de opções de trajetos em cada localidade.
Fonte: Bayeux em foco (Com informações do blog Caos Bayeux)
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