2 de maio de 2013

Sem mobilidade, sem produção. O trabalhador está parando

A imobilidade está pesando. E muito. Deixou de provocar apenas pequenos atrasos no dia a dia dos moradores das metrópoles para virar assunto sério no País. Começou a afetar a produtividade brasileira, com consequências econômicas. Sem caminhos livres, os funcionários têm levado cada dia mais e mais tempo para chegar ao trabalho, sejam fábricas, escritórios ou lojas. Não importa se de ônibus ou carro. Todos sofrem. Todos perdem horas para se deslocar nas cidades cada vez mais expandidas e menos dotadas de infraestrutura. Como consequência, há prejuízos à atividade intelectual, concentrada nos centros urbanos, exatamente os que mais sofrem com a imobilidade. Preocupada com a improdutividade alimentada pelos problemas da falta de mobilidade, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou um estudo que aponta um acréscimo de 20% no tempo médio gasto nos deslocamentos dos trabalhadores nas maiores metrópoles brasileiras. Ou seja, quanto mais imobilidade, menos produção e menos lucro.

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O levantamento, realizado nas 12 principais metrópoles brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza, Belém, Goiânia e Manaus), que concentram 45% da população urbana do País (20% só no RJ e em SP), aponta que essa dificuldade de se deslocar é resultado da expansão, quase sempre desordenada e sem infraestrutura adequada, dos centros urbanos. Com isso, os funcionários moram cada vez mais longe do trabalho e percorrem distâncias cada vez maiores para chegar ao emprego. Tem se levado, em média, 1h04 nos deslocamentos. As cidades não têm qualidade e o trabalhador está pagando por isso.

A CNI mostra, também, que a hegemonia do automóvel é coisa do passado. Engana-se quem ainda acha que, com ele, chega-se mais rápido. A mobilidade está tão comprometida que todos estão ficando parados no trânsito. Nas grandes cidades, um quilômetro de distância está sendo percorrido de ônibus em 2,93 minutos, a uma velocidade de 20,4 km/h. Enquanto que, de carro, a mesma distância é feita em 2,67 minutos, a uma velocidade de 22,4 quilômetros. Ou seja, o automóvel leva 26 segundos de vantagem sobre o ônibus e consegue desenvolver, em situações de estrangulamento viário, apenas 2 km/h a mais.

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“O Brasil está pagando um preço alto por essa imobilidade. Ela tem comprometido a operação do trabalhador, afetando não só aquele que depende do transporte público, mas também os que usam o automóvel. Atualmente, empresários mal conseguem realizar três reuniões por dia se tiverem que fazer deslocamentos. Cada vez o funcionário tem que acordar mais cedo para conseguir cumprir o percurso até o trabalho sem comprometer a carga horária. O resultado é que chegam exaustos e produzem menos”, argumenta o diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes.

A CNI percebe que, mesmo começando a afetar a economia do Brasil, a imobilidade continua de fora das grandes discussões do País. “Muitas empresas brasileiras têm se empenhado em desenvolver sistemas de produção rápida, o chamado just time, no qual um produto chega à fábrica no exato instante da sua produção, mas ficam vulneráveis na hora da entrega por causa dos congestionamentos. Ou seja, a evolução está se perdendo e isso é lamentável”, afirma.

Muitos dos problemas da imobilidade apontados pela CNI têm sido alimentados com a opção do Brasil pelo transporte rodoviário, seja coletivo ou individual. Uma herança dos americanos. Com a maioria dos deslocamentos sendo feitos por ônibus, as distâncias entre as moradias e os centros urbanos foram aumentando. A solução, segundo a CNI, é o transporte de massa e, não mais, a opção pelo modelo rodoviário. Em Pernambuco, por exemplo, o metrô tem apenas dois ramais que totalizam 25 km de extensão. E, mesmo assim, a mais recente linha, a Sul, tem 14 km e levou mais de dez anos para ser construída. Conclusão: o automóvel, especialmente ele, precisa deixar de ser protagonista para virar coadjuvante nas cidades contemporâneas.

Suape reflete falta de opções de deslocamentos

A imobilidade do trabalhador pode ser vista e sentida por toda parte, em todos os centros urbanos. Em Pernambuco, ela tem um reflexo ainda maior no Complexo Industrial Portuário de Suape, no Litoral Sul do Estado. Propagado, principalmente pelo governo do Estado, como a locomotiva do desenvolvimento econômico pernambucano, a verdade é que hoje, em termos de infraestrutura viária e mobilidade, Suape é um péssimo exemplo. Sobrevive exclusivamente do fretamento de ônibus, o que gera custos exorbitantes, entre outros problemas. Depende do frete porque não há opção de transporte de massa. Nenhuma. Os criadores de Suape focaram apenas no crescimento econômico, sem preparar o caminho para se chegar a ele. Deixaram isso para depois e agora, para entrar ou sair do complexo, partindo da capital e em horários de pico, são pelo menos duas horas de trânsito e incertezas no caminho. Pelo menos por enquanto, a locomotiva está sem trilhos.

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Os números do próprio governo refletem o tamanho da imobilidade do Complexo de Suape: dos 70 mil funcionários, 63 mil andam de ônibus fretados. Do total de deslocamentos, 90,7% são feitos por fretamento, 9% por automóveis e motos e apenas 0,3% por linhas de ônibus comuns. O imponente complexo possui apenas quatro linhas convencionais de transporte público, com intervalos que podem chegar a 1h e nenhuma delas sai do Recife, apenas dos municípios do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca. A partir da capital, ou se vai de ônibus ou de trem (locomotivas velhas, que levam quase 2h para fazer um percurso de 18 km) até o Cabo, pagando uma segunda tarifa para chegar a Suape. Ou seja, chegar de transporte público em Suape é difícil. Por isso o fretamento domina.

São 1.200 ônibus fretados entrando, permanecendo estacionados em áreas do complexo e saindo todos os dias de Suape. Mais do que um prejuízo financeiro - afinal, estima-se que o custo do fretamento seja de R$ 12 milhões por mês (as empresas não revelam o valor de forma alguma) - o fato de o fretamento mover Suape é simbólico porque retrata bem a falta de opção de mobilidade para o trabalhador. É tanto que o governo tem se incomodado com essa situação e trabalha, com a ajuda do governo federal (é claro), para investir R$ 230 milhões em mobilidade até 2015. “A situação está ruim, mas vai melhorar. Estamos preparando a infraestrutura para facilitar o acesso ao complexo e criando uma oferta de transporte coletivo de massa. Quando tudo estiver pronto, até 2015, as empresas terão opção para decidir se continuam ou não com o frete para transportar os funcionários”, aposta o diretor de planejamento e urbanismo de Suape, Jaime Alheiros.

Fonte: Ônibus Paraibanos / Jornal do Commercio

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