O cartão eletrônico do vale-transporte, implantado em 2008 no sistema de transporte coletivo de Natal, virou fonte de renda nas principais paradas de ônibus. Os trabalhadores que tem direito ao benefício repassam o cartão e vendem o crédito disponível com um bom desconto, de R$ 0,80, por passe. Um cartão com crédito de 30 passagens é vendido pelo trabalhador por R$ 42,00. O esquema não se limita ao repasse do cartão a um conhecido ou familiar, mas a revendedores de passes de ônibus.
Eles adquirem os cartões e revendem os passes a terceiros por R$ 1,75 - 0,45 centavos a menos do que o preço oficial da tarifa de ônibus, que é R$ 2,20. Num cartão eletrônico, com crédito de 30 passes, o lucro do revendedor é de R$ 10,50. As transações desse mercado paralelo são feitas em praticamente todas as paradas de grande fluxo, da zona Sul à zona Norte da cidade, à vista de todos e sem nenhuma fiscalização.
Atualmente, 190 mil cartões de vale-transporte estão em circulação em Natal, segundo informações da empresa NatalCard, responsável pelo gerenciamento do sistema de bilhetagem eletrônica. Por dia, cerca de 175 mil usuários utilizam o cartão eletrônio do vale. O sistema de transporte coletivo de Natal transporta, todos os dias, 500 mil passageiros.
Na manhã de ontem, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE flagrou dois homens no centro da cidade, em paradas diferentes (Avenida Rio Branco e rua Ulisses Caldas) e outros quatro no bairro do Alecrim, na parada central próximo ao camelódromo. Anderson Rocha da Silva, 30 anos, está nesse mercado paralelo desde a época quando o vale-transporte era em papel.
Segundo ele, nessa parada de ônibus do Alecrim, pelo menos, dez pessoas revendem vales-transportes. "Não tenho medo, porque não estou fazendo nada ilegal. Ninguém aqui está roubando, a gente está trabalhando e ganhando nosso sustento", afirmou. Ele estava com dez cartões de pessoas diferentes e oferecia passes a R$ 1,75.
Esse preço, segundo ele, é uniformizado em todos os pontos da cidade. Anderson contou que, com sorte, eles conseguem faturar até R$ 1,00 por passe. Isso quando dá pra passar o passe-livre (integração). "Mas não é toda hora que se consegue. Nem sempre o passageiro que vai pegar o ônibus de trás quer ficar esperando o cartão que está sendo usado em outra linha ser liberado", disse Anderson.
Ele afirmou que compra cartões de vale de "trabalhadores de firmas". "Acontece de ele receber e não usar. Como ele não pode reverter o crédito em dinheiro, então vende", contou um outro revendedor de passe, no centro da cidade. Esse, com receio de ser punido, preferiu não se identificar. Ele tinha em mãos um grande número de cartões [em nome de pessoas diferentes], mas não quis dizer exatamente quantos.
"Tenho uns oito", declarou. Nas mãos dava para perceber, pelo menos, o dobro disso. Ele contou que as transações - não só de venda dos passes - mas de compra dos cartões também acontecem nas paradas. "Quem tem cartão e não está usando porque tem carro, passa aqui e oferece", relatou "Se esse ganha-pão acaba, a situação fica ruim". Ele disse que, pela escassez de trabalho, não tem outra fonte de renda.
Fonte: Tribuna do Norte
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